segunda-feira, 23 de março de 2009


“A Prefeitura abre mais 18 vagas para médicos”.

Já era um fim de domingo e Carlos adentrava ao seu apartamento alugado e pago pela mãe, ele estava completamente exausto. Acabara de chegar de um churrasco da família de sua noiva. Noiva. Em que enrascada ele fora se meter. Aos trinta e um anos já havia se formado em Medicina, já havia passado pela regência no Rio de Janeiro, feito provas e terminado sua especialização e desde os dezessete namorava Mônica, que já trabalhava há três anos como jornalista.
Ele sempre soubera que era com ela que iria casar e quando teve que morar no Rio de Janeiro tratou logo de oficializar o namoro e comprar uma aliança de noivado para dá-la. Mas a regência durou quatro anos e por quatro anos ele viveu a pressão da família da noiva para casar-se com ela. Algo que poderia evitar por causa da distância, mas já havia regressado há um ano e sete meses e terminara a sua especialização, estava pronto para começar a trabalhar. E cada pessoa que o encontrava perguntava: “quando vai casar?”. A família de Mônica já estava desconfiada que ele não quisesse mais o casamento, mas é que as pessoas não entendem: como ele vai casar sem dinheiro e trabalho? Ele não pagava nem o aluguel do próprio apartamento. A pressão dele e do mundo sobre o trabalho e o casamento estava cada vez maior e foi pensando em como resolver sua vida que ele foi dormir naquele domingo.
Na segunda-feira acordou cabisbaixo, estava à procura de um trabalho há um mês e quase não tinha mais esperanças quanto a isso, sabia que não seria fácil, mas ouvia tanta notícia de hospitais sem médicos que também não pensava que seria tão difícil. Levantou-se da cama, lavou o rosto, escovou os dentes, tomou banho e vestiu-se para sair para procurar emprego. Antes de sair, tomou o café enquanto lia o jornal pensando aonde iria levar seu currículo primeiro, até que uma notícia lhe chamou atenção “A Prefeitura abre mais 18 vagas para médicos” e rapidamente ele foi ler a matéria completa; anotou o nome e o endereço do hospital e saiu de casa em direção ao local. Era uma ótima chance, e só precisaria esperar alguns meses para juntar o dinheiro. Mônica já poderia começar a procurar um vestido de noiva.


Ana Luíza Farias Dos Martins Coelho

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